Lilith
Essa dor. Gosto de sangue na pontinha da língua. Arde. Risadas, mas vontade de gritar. Falas de merda, barras de bosta batidas nas costas. Liberta-me. Liberta-me ou te devoro: juro que te mastigo tão bem que não vai haver digestão.
E o terapeuta? Com seus conselhos de homem branco bacana: vai dar tudo certo, fique bem. Permita-me responder: não vai. Não vai, porra. Eu sou a Outra. Aquela que tem boca, mas não sabe falar; braços, mas não sabe abraçar. Ora, como é maravilhoso sentar eu aqui e tu ai e fingirmos nos entender através dessa telinha como se o mundo coubesse entre o indicador e o polegar.
O que há dentro de mim está prestes a se soltar. É feroz, apesar das meias de algodão, acredite. Achei que podia conte-la, tomei os remédinhos, mas olha só: não adiantou. Ela se alimenta disso, sabia? Dos compridos, conselhos, cochilhos, confortos. O bucho vai aumentando até não dar mais. Mas a fome é infinita.
Eu tomaria cuidado se fosse você
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